“O norte-americano não teria coragem de ser polícia no Brasil”, diz brasileiro que treina a Swat

  • Por Jovem Pan
  • 02/08/2017 14h21
Johnny Drum/Jovem Pan Especialista em segurança público foi o convidado do programa nesta quarta-feira (2)

SWAT, NASA, FBI, Vaticano e mais de 120 corporações espalhadas pelos Estados Unidos, China, França, Luxemburgo, Bélgica, Croácia, Itália e Portugal estão na extensa lista de espaços oficiais que já tiveram aulas com o instrutor brasileiro especializado em segurança pública Marcos do Val. E depois de rodar o mundo e ficar imerso em treinamentos de algumas situações extremas (até mesmo de guerras e terrorismo) ele diz poder afirmar com propriedade: o Brasil está muito perto de entrar em um “caos total”.

“É muito difícil ser polícia no Brasil. O norte-americano diz que não teria coragem de ser polícia aqui. A lei não o ajuda a executar o trabalho, o salário não é satisfatório, a população não reconhece o valor. O policial lá tem um apoio enorme (…). Aqui eles não aguentam mais. Estamos chegando ao fundo do poço. Não sei quando, mas vamos chegar logo. Bons policiais vão sair da carreira e a sociedade vai ficar abandonada. Nossa pressão tem que ser nos deputados. Nosso foco como sociedade para ajudar a segurança pública lá na frente é pressionar por uma mudança na legislação. Nossa legislação é uma vergonha”, declarou ao Pânico na Rádio nesta quarta-feira (2).

De acordo com as informações de seu site oficial, Marcos é instrutor da Swat desde o ano de 2000 e membro honorário da Swat de Beaumont no Texas desde 2003. Sua empresa de treinamento policial (CATI – International Police Training) possui filiais na Europa e nos Estados Unidos. Ele também foi militar do exército brasileiro no 38º Batalhão de Infantaria e é mestre 2º Grau em Aikido, diplomado e credenciado pela International Aikido Federation.

Além de destacar a legislação falha e a falta de incentivo aos policiais, o convidado disse que a cultura do “jeitinho brasileiro” de querer tirar vantagem a todo minuto também é um dos pilares da fragilidade da nossa segurança pública.

“Nos EUA, quando trabalhamos com a polícia, vemos que ela é muito educada. Mas, quando a pessoa atravessa a lei, ela é mais rígida e violenta que a brasileira. Ela é enérgica, age mesmo. Se você não para para o pedestre, vai preso. Se está sem cinto de segurança, leva multa (…). Uma vez eu estava fazendo ronda com um policial e ele multou a própria esposa que estacionou o carro onde não podia. E ela não ficou revoltada, ficou constrangida. Nossa cultura de querer tirar vantagem de tudo nos mata. A gente quer que todo mundo mude, menos a gente”, afirmou.

Questionado pela bancada, Marcos ainda deu suas opiniões acerca da situação caótica vivida pelos cidadãos cariocas no dia a dia de arrastões, assaltos, assassinatos e balas perdidas no Rio de Janeiro. Para ele, apenas colocar as Forças Armadas nas ruas – como foi recentemente decretado pelo presidente Michel Temer – não vai resolver absolutamente nada.

“O Exército não é treinado para patrulhar ruas. Não é a função dele. É importante deixar claro que, na formação da polícia, o objetivo é proteger. Na formação das Forças Armadas, o objetivo é matar e destruir. Quando você coloca as Forças Armadas na patrulha, o Brasil passa a ter particularidades. Vemos o policial fazendo trabalho de grupos militares nas favelas, e os grupos militares, que deveriam estar se preparando para uma guerra, fazendo trabalho de polícia. Aqui é tudo misturado. Estamos à mercê, navegando sem destino. Tem tanta coisa errada no Brasil que não existe uma única chave. O Rio de Janeiro é uma cidade em guerra”, argumentou. “Não tem uma palavra mágica nem uma ação única que vai resolver tudo. Temos um caminho longo”, concluiu.

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